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Euribor: o que é e como afeta o Crédito à Habitação

A subida das taxas de juro está na ordem do dia, o tema é notícia de abertura em todos os telejornais! No entanto, antes de entrarmos em alerta vamos tentar perceber qual é exatamente o motor desta subida e como é que a conjuntura económica atual influencia a nossa carteira e as contas do mês.

Financiamento entre bancos

Começamos a nossa tentativa de compreensão nos bancos. Para além de se financiarem através dos depósitos dos particulares e empresas, os bancos também obtêm liquidez (dinheiro) pedindo emprestado a outros bancos. Na verdade, estes empréstimos entre bancos são extremamente comuns e constituem uma parte muito importante do seu financiamento.

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Quando faz um depósito num banco, é como se estivesse a emprestar dinheiro a esse banco. E quanto é que o banco lhe paga por esse empréstimo? O juro que recebe dos seus depósitos a prazo. Atualmente, esses juros são extremamente baixos. E quando o banco pede emprestado dinheiro a outro banco, quanto é que paga por isso? Paga também um juro, que varia de empréstimo para empréstimo entre os vários bancos.

E é aqui que entra a Euribor, a palavra que está em todas as bocas, mas que poucos percebem exatamente o que é. A Euribor é uma média das taxas de juro que os bancos praticam nestes empréstimos entre si. Ou seja, é o valor médio da taxa que os bancos pagam a outros bancos que lhes emprestem dinheiro, dentro da Zona Euro.

Os empréstimos entre os bancos têm vários prazos: três meses, seis meses ou doze meses (há também prazos mais curtos, mas esses não impactam tanto o público em geral). Daí existir também o cálculo de várias Euribor diferentes: Euribor a três meses, Euribor a seis meses e Euribor a doze meses.

Taxa fixa vs Taxa variável

Vamos agora mudar a perspetiva para si, pessoa particular. Quando se dirige ao banco para contratar um crédito à habitação, o banco apresenta-lhe duas opções: pode escolher entre contratar uma taxa de juro fixa ou uma taxa de juro variável. Se optar por uma taxa fixa, a taxa de juro será constante ao longo do empréstimo (ou pelo período que contratou essa taxa fixa). Se optar por uma taxa variável, a taxa de juro irá oscilar consoante o comportamento do indexante. Mas o que é este indexante e como funciona ao certo a taxa variável?

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Taxa variável

A taxa variável é composta por um “indexante” e por um “spread”.

Indexante

O indexante funciona como uma referência, ou uma âncora. É a variável que a taxa vai seguir. O indexante mais comum é a nossa amiga Euribor. Mas como vimos acima, a Euribor pode ser a três, seis ou doze meses. Em que é que cada uma delas difere? O período da Euribor é o que determina a regularidade com que a sua taxa variável é revista. Por exemplo, se contratar uma Euribor a três meses, terá a sua taxa revista de três em três meses.

Se o seu contrato tiver como indexante a Euribor a três meses, durante três meses irá pagar sempre a mesma prestação, mas findo esse tempo o banco revê a taxa e esta poderá aumentar ou diminuir. Qual é o critério para aumentar ou diminuir? O critério é o comportamento da Euribor, a taxa de juro dos empréstimos entre bancos que já referimos. Se a Euribor tiver subido, a taxa do seu empréstimo vai subir, e vice-versa.

Sendo assim, é melhor escolher uma taxa a três, a seis, ou a doze meses?

Não existe uma resposta certa. A Euribor a três meses atualiza mais depressa do que a de seis e ainda mais do que a de doze. Isto é mau numa situação em que as taxas Euribor estão a subir (porque mais rapidamente vai começar a pagar mais). No entanto, no caso de as taxas estarem a descer, se o seu indexante for a Euribor a três meses mais rapidamente passa a pagar menos.

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Spread

Então se o banco pede emprestado a outros bancos a uma taxa de juro igual à Euribor e depois empresta a particulares esse dinheiro também à Euribor, como é que faz lucro?

É aí que entra a segunda componente da taxa variável. A taxa variável inclui não só o indexante (a Euribor), como também aquilo a que chamamos “spread”. O “spread” não é nada mais do que a forma que o banco tem de lucrar com os empréstimos. Diferentes bancos definem diferentes spreads e o Banco de Portugal regula qual o valor máximo que esta componente pode ter.

Se a Euribor é uma média das taxas de juro praticadas entre os bancos, qual é o papel do Banco Central Europeu em influenciar o seu valor?

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Para além de poderem pedir emprestado a outros bancos, os bancos também se podem financiar junto do Banco Central Europeu (BCE). Isto significa que o BCE compete com os bancos na taxa que cobra quando empresta dinheiro. O BCE tem, assim, capacidade para definir uma taxa mínima a que todos os bancos na Zona Euro se podem financiar. Durante muitos anos, o BCE definiu as taxas de juro a que emprestaria dinheiro aos bancos como nulas (ou até mesmo negativas!). Estas taxas praticadas pelo BCE acabam por influenciar a Euribor e, o facto de terem estado muito baixas durante muito tempo, fez com que a Euribor estivesse durante anos a níveis baixíssimos. Por sua vez, isto permitiu às famílias terem uma taxa de juro no seu crédito à habitação também ela muito baixa.

O que se está a passar agora?

Como forma de travar a inflação, o BCE começou a subir as taxas de juro a que empresta aos bancos. Isto fez com que a Euribor começasse a subir e por isso todos aqueles que tinham empréstimos à habitação com taxas de juro variáveis começaram a ver as suas prestações a aumentar.

Por que não escolhemos todos, então, taxas de juro fixas?

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Ao contratar uma taxa de juro fixa está a eliminar o risco dos casos em que a Euribor sobe e a sua prestação aumenta. Ou seja, imagine que contratou uma taxa de juro fixa de 1% e a Euribor já está a 1.5%. Se assim foi, irá continuar a pagar apenas 1%, enquanto todos aqueles que têm uma taxa variável vão pagar 1.5%. Quem é que perde neste caso? O banco -  que está a financiar-se a um custo maior do que aquele a que lhe está a emprestar dinheiro. Ou seja, emprestar a uma taxa fixa acarreta maior risco para o banco. Por esse motivo, o preço de uma taxa fixa também é, geralmente, maior: no momento do contrato, a taxa fixa tem valor superior à taxa variável que se poderia acordar nesse momento.

Nos últimos anos, em que as taxas variáveis estiveram quase a níveis nulos, alguém que tivesse contratado uma taxa fixa de 1% estaria a perder em termos relativos (estava a pagar uma maior prestação do que os restantes, que contrataram a uma taxa variável que se encontrava abaixo de 1%). No entanto, com esta virada das taxas de juro, já compensa mais estar a pagar uma taxa fixa de 1%, do que a taxa variável.

Se vou contratar um crédito agora, devo então fazer uma taxa fixa?

Não necessariamente: para quem vai agora contrair um crédito à habitação, as taxas de juro fixas que o banco lhe irá propor já vão ser mais elevadas do que aquelas que teria proposto quando a Euribor estava em níveis muito baixos. Se contratar uma taxa de juro fixa elevada hoje e a Euribor começar a descer nos próximos anos, acabará a pagar mais do que se tivesse contratado uma taxa variável. Mas o oposto também pode acontecer: ninguém consegue prever, nem mesmo o BCE!

O que devo então retirar disto tudo?

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Se escolher contratar uma taxa fixa, irá provavelmente pagar o preço de um risco mais diminuto para si (correspondente a um risco maior para a outra parte - o banco). Ou seja, é como se estivesse a pagar ao banco para ele acarretar por si o risco.

Se escolher uma taxa variável, está a assumir suportar o risco de variação das taxas de juro e terá uma maior incerteza na prestação a pagar, mas o total que irá pagar ao banco em juros poderá ser menor porque aceitou assumir esse risco.

Alguém que tenha contratado uma taxa fixa, sabe que todos os meses a sua prestação irá ser constante e pode com isso fazer um planeamento orçamental mais previsível. Assim, se valoriza muito a previsibilidade das suas despesas e a estabilidade do seu orçamento familiar, poderá mesmo fixar a taxa. Se, por outro lado, não valorizar tanto a previsibilidade orçamental pode optar pela taxa variável, que lhe poderá sair mais barata, acabando por assumir o risco de variação das taxas de juro (ou, se preferir, o risco de variação da Euribor).

Autoria: Finanças para Todos

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